quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Conto "Trezentas Onças"

O que temos pra hoje? Prato típico, sim. E um dos melhores da culinária gaúcha: "Contos Gauchescos", de João Simões Lopes Neto. Desta obra, apresento-lhes o conto "Trezentas Onças", quiçá o melhor ingrediente.

O conto traz a história de Blau Nunes, um tropeiro que foi encarregado de levar trezentas onças de ouro como pagamento do gado adquirido pelo patrão. No caminho, o personagem resolve descansar à beira de um rio, no qual banhou-se. Porém, ao retomar a viagem, esquece a guaiaca em que estava o dinheiro.

Apesar dos esforços do cão que o acompanhava, na tentativa de alertá-lo do esquecimento, seguiu a galope despreocupadamente. Ao entardecer, quando chegava à estância onde passaria a noite, lembrou-se da guaiaca com as trezentas onças que deixara para trás. Somente agora compreendia tamanha inquietação de seu cachorro.

Desesperado, decidiu voltar para procurar o dinheiro. Quando saía da fazenda, passou por uma comitiva de tropeiros que estava chegando. Quanto mais se aproximava do local onde lembrava ter deixado a guaiaca, mais aumentava sua ansiedade.

A noite chegara, mas ainda assim reconheceu o lugar onde havia parado. Blau Nunes então desceu do cavalo e começou a procurar as trezentas onças. Após verificar todo o espaço no qual poderia estar a guaiaca sem nada encontrar, desiste da procura, retornando à estância. Enquanto galopava, pensava no gado que teria de vender para pagar ao menos parte da quantia.

Ao chegar novamente à fazenda, dirigiu-se para a caso do estancieiro onde estavam os demais tropeiros da comitiva. Na sala, conversavam e saboreavam um mate amargo. Blau Nunes cumprimenta a todos e só então percebe que sobre a mesa, ao lado da chaleira, estava a guaiaca, "barriguda, por certo com as trezentas onças, dentro."

A principal característica deste conto, assim como de todo o livro, é a linguagem regionalista utilizada pelo autor. Muitas palavras e expressões que caracterizam a fala e indumentária gaúcha aparecem no decorrer do texto. A guaiaca, por exemplo, é uma peça pendurada à cinta utilizada geralmente para carregar dinheiro e outros objetos. Para o leitor que não é do Rio Grande do Sul, ou mesmo àqueles que aqui moram mas desconhecem a cultura gaúcha, tal linguagem pode causar certo estranhamento.

Contudo, a maestria com que João Simoes Lopes Neto conduz a narrativa, destacando as características do homem e do solo gaúcho, faz da obra uma unanimidade. O singular encaixe entre as cenas e os personagens torna a leitura dinâmica e bastante prazerosa. Ao final deste ou de outro conto, dificilmente o leitor irá fechar o livro sem antes ler uma série de outras histórias.

O conto pode ser encontrado no seguinte site: http://www.algosobre.com.br/resumos-literarios/contos-gauchescos.html

2 comentários:

Jorge R. Tomás Japur disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jorge R. Tomás Japur disse...

Glorioso Blau Nunes! Guapo meio rústico, mas bondoso no más. Não cedeu à Teiniaguá nas míticas furnas do cerro do Jarau. Junto com Martín Fierro, el Viejo Pancho e Pablo Luna, forma uma espécie de grupo de personagens literários que moldam a identidade "del gaucho". Esses personagens nos
mostram que a "pátria gaucha" ultrapassa em muito as fronteiras rio-grandenses.