sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Isso não é adeus, é até logo...

Concordo plenamente com meus amigos e companheiros do blog: a experiência adquirida participando da blogosfera suplanta horas – e livros – de teoria. Para falar deste blog é imprescindível falar do semestre passado. Como esquecer todas as tardes que a turma passou discutindo sobre o ambiente digital? Não foram poucas as vezes que saímos do 74 de noite, um frio desgraçado, ainda discutindo os (muitos) textos que havíamos lido. Um dos temas que mais provocou estranhamento foi, justamente, a blogosfera. Como a maioria nunca tinha postado na vida, isso era algo realmente nebuloso, sem falar na grande questão: é possível fazer jornalismo em um blog? Isso, confesso, não sei responder: tem a teoria, o habitus, o nosso amado Bourdieu... De qualquer forma, a proposta não era fazer um blog de jornalismo, mas participar do ambiente digital.

Quando montamos o grupo para construção do blog, tivemos dificuldades para escolher um tema capaz de agradar os cinco integrantes. Apesar de todos sermos amigos, os gostos, muitas vezes, são díspares. Como alguns integrantes gostam de Animes, “inscrevemos” nosso blog com esse tema no semestre passado; paralelamente, porém, discutíamos uma forma de conciliar o interesse de todos. A resposta veio uma semana antes de iniciar o blog, por sugestão do nosso filósofo Jorge Robespierre: se todos gostavam de ler, por que não um blog sobre livros? A proposta foi aceita por todos e começamos a escrever.

Ler um livro por semana foi a melhor e a pior coisa na construção do blog. A necessidade de cumprir a tarefa me obrigou a ler muitos livros que eu “namorava” na biblioteca, mas não lia por falta de tempo - foi graças ao blog que eu descobri Álvaro Mutis, um autor colombiano desconhecido até por aqueles que gostam de literatura latino-americana. Porém, conforme os trabalhos da faculdade se acumulavam, ler um livro por semana mostrou-se uma tarefa árdua: muitas vezes não dormi para ler “o livro do blog”.

O objetivo inicial do trabalho – inserir-se na blogosfera e no ambiente digital –, creio, foi alcançado. Trabalhar com hipertexto, aliás, foi um aspecto bastante gratificante do trabalho, pois a necessidade de conseguir links interessantes para os nossos leitores nos obrigou a navegar muito na Internet. O blog continuará existindo, agora sem a pressão de valer nota para a cadeira de Digital II. Eu pretendo continuar como mestre-cuca com a companhia de meus valorosos amigos. Aos nossos leitores, até logo!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Experiência

"Experiência: ato ou efeito de experimentar; habilidade e perícia adquiridas com o exercício de uma arte ou ofício". Ratificando as palavras dos amigos Piero Pedrazza e Maurício Senna, experiência bastante válida e estimulante. Apesar de estar atrelada a uma disciplina do Curso de Jornalismo, a liberdade de escolha do tema e organização das postagens foi talvez um dos fatores que mais contribuíram para tornar a atividade tão gratificante.

No início, a idéia de participar pela primeira vez da construção de um blog, associando a literatura com esta ferramenta relativamente embrionária, pareceu-me um tanto incerta em relação a sua efetividade. Não são muitos os blogs construídos a partir de análises ou mesmo comentários de obras literárias. Além disso, por desconhecer a dinâmica de um blog, imaginei que dificilmente iríamos inserir nosso trabalho na blogosfera.


Passadas as primeiras postagens, os resultados começaram a aparecer. Amigos e conhecidos para os quais eu jamais falei sobre a participação no "Sopão de Letras" elogiaram o nosso trabalho. Através dos comentários, concluí que essas pessoas estavam realmente lendo os nossos posts, assim como o que você leitor está fazendo neste exato momento. Isso prova que eu estava significativamente equivocado com relação à suposição inicial. Ainda bem.


A disciplina de Laboratório de Jornalismo Digital será concluída, mas o "Sopão de Letras" vai continuar de forma independente e provavelmente com novos mestres-cucas. Independentemente das trocas de integrantes ou novas dificuldades relacionadas à conciliação da atividade com a graduação, pretendo continuar contribuindo com o blog. Então, para todos vocês leitores, até a próxima postagem.
Como já foi dito esse blog é uma proposta de trabalho da disciplina de Laboratório de Jornalismo Digital, uma experiência estimulante, que fez com que os mestres cucas, todos com a literatura latino americana em comum pudessem expor seus conhecimentos acadêmicos, e muitas vezes empírico. Como auto critica não posso deixar de falar no atraso de meus posts, como esse por exemplo.

A quarta-feira logo após o programa ao vivo que temos (já foi comentado pelo nosso querido amigo Piero Pedrazza), não é um dos dias mais livres para se postar. O esforço e perseverança do grupo para trazer o melhor conteúdo e fazer uma analise que realmente trouxesse “sustância” para as pessoas que acessam o blog não foi pouca.

O maior dos desafios que foi de estar inserido na blogosfera me parece que foi alcançado em parte, pois conseguimos até certo ponto um dialogo com interessados nessa área. As varias formas de ver determinada pelos integrantes desse grupo, sempre forma discutidas. Na verdade a escolha do tema nos favoreceu muito, em minha opinião, tem coisa melhor do que falar sobre livros?!

Agora passamos a uma nova fase, é claro se eu convencer alguns malucos a continuarem postando, essa nova fase não estará atrelada à avaliação de uma disciplina da faculdade, onde eu e alguns mestres cucas continuaremos a recomendar bons livros da literatura latino americana. Os links de temas relacionados ao livro comentado a foto serão utilizados com freqüência para contextualizar e melhor ilustrar nossa proposta.

A todos que acessaram muito obrigado

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Muito obrigado

Post a post acredito que o objetivo do blog sopão de letras foi alcançado. Após o desafio de ler um livro por semana foi possível apresentar um panorama da literatura latino americana. Apesar de todos os meus posts serem de autores brasileiros e a maioria deles gaúchos, o grupo conseguiu fazer um apanhado mais geral da literatura do nosso continente.

A criação dos posts exigiu muito dos mestres-cucas, pois entre outros trabalhos e provas nem sempre disponibilizávamos de tempo para ler nossos livros. Fato que às vezes me fez comentar livros lidos em outros anos ou quando se tratava do estudo de um conto ou poema ler somente o analisado e não a obra completa.

De quinze em quinze dias na cadeira de laboratório de rádiojornalismo II apresentamos um programa ao vivo e como sua produção se acumulava para a terça-feira isso dificultou ainda mais a postagem na data e hora previstas. Apesar de não possuirmos dados consistentes do nosso alcance na blogosfera, através do sitemeter sabemos que nosso blog foi acessado por pessoas de diversas cidades e estados do país e que algumas dessas pessoas eram nos visitavam regularmente. Contudo vale a ressalva que, possivelmente, um terço de nossos acessos sejam obra de minha querida mamãezinha.

A experiência prática foi válida conforme foi à dedicação empenhada aos posts do blog. A oportunidade de aprender escrevendo mesmo qual é a linguagem que deve ser utilizada na internet foi o principal benefício do exercício. Bom, agora então encerro minha participação no sopão de letras entregando meu chapéu de mestre-cuca e me despedindo de meus leitores. De novo muito obrigado.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

A Arte de Flanar*












João do Rio
Charge: J. Carlos
Revista Careta: 1910



A rua continua, matando substantivos, transformando a
significação dos termos, impondo aos dicionários as palavras que
inventa, criando o calão que é o patrimônio clássico dos léxicons
futuros. (...) É preciso ter espírito vagabundo, cheio de
curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo desejo
incompreensível, é preciso ser aquele que chamamos flâneur
e praticar o mais interessante dos esportes - a arte de flanar. (...)
Que significa flanar? Flanar é ser vagabundo e refletir, (...) ter o
vírus da observação ligado ao da vadiagem. (...) É
vagabundagem? Talvez. Flanar é a distinção de perambular com
inteligência. Nada como o inútil para ser artístico. Daí o
desocupado flâneur ter sempre na mente dez mil coisas
necessárias, imprescindíveis, que podem ficar eternamente adiadas.

Trecho de A Alma Encantadora das Ruas, de João do Rio.



Prezados leitores, convenhamos! Em geral estamos tão absortos em nossos deveres que nem percebemos o que ocorre por aí. Nossas excessivas preocupações dão sentido àquela estupidez de achar que o nosso umbigo é o centro do mundo. Em A alma encantadora das ruas (1910), Paulo Barreto (conhecido como João do Rio) faz a crônica boêmia da cidade do Rio de Janeiro e de seus tipos populares no final do século XIX. Trago essa obra para a contemporaneidade porque hoje em dia parecem faltar flâneurs, no nosso (aparente) pacato dia-a-dia.

Quando caminho pelas ruas de Santa Maria, o que vejo no semblante da maioria das pessoas é um olhar taciturno com a cabeça baixa, ou ainda com o olhar fixo em alguma coisa para além de onde a pessoa está, provavelmente devido a muitas preocupações e obrigações. Foi por causa disso que perdi meu velho costume interiorano de dar "bom dia" às pessoas. Cadê o nosso "espírito vagabundo"?


Minha geração (tenho 22 anos) foi criada sob ditos do tipo “come o fígado do teu próximo senão ele comerá o teu. Seja o primeiro! Porque, se você não for, não passarás de uma doméstica ou de um gari”. O engraçado é que nos pedem para sermos caridosos e solidários com o próximo, mas nos criaram individualista e materialistamente. É óbvio que esses valores não são equivocados, claro que não. A auto-suficiência não será completa se não houver independência econômica. Essa é a base para se viver nos moldes atuais. Como dizia um conhecido, "até o mais vermelho dos marxistas quer, no fundo, virar burguês". Mas isso não é a garantia para se viver bem. Acredito que o mal-entendido esteja no “viver bem”.


Entretanto, ainda há flâneurs em Santa Maria, tenho certeza. Todos aqueles senhores que têm o cabelo esbranquiçado pela geada dos anos, sempre presentes no Calçadão pelas manhãs, são um bom exemplo. Onde mais podemos encontrá-los? Suspeito que em qualquer boteco barato da cidade. Deve ser por isso que me sinto tão faceiro ao ir com meus excelentíssimos colegas de faculdade a esses recintos.


Aluno universitário, eis outra estirpe muito adepta à arte de flanar. Analisar o modo dos outros, os próprios, os acontecimentos da política nacional e internacional, os esportes, os eventos da cidade, alguns conceitos filosóficos, sociológicos e antropológicos, gibis, filmes, músicas, personalidades, explanar algo sobre as mulheres (elas são sempre uma fonte muito rica de comentários). Sobre as mulheres já dizia o glorioso Erasmo de Roterdã (1466-1536) no seu Elogio da Loucura: "Antes de tudo, têm elas o atrativo da beleza, que com razão preferem a todas as outras coisas, pois é graças a esta que exercem uma absoluta tirania mesmo sobre o mais bárbaro dos tiranos".
Enfim, com uma(s) garrafinha de cerveja um universitário torna-se um exímio representante da classe dos flâneur.


João do Rio era jornalista, e já no início do século XX percebia que essa prática de se "admirar e reparar as coisas" era fundamental para a atividade jornalística. Uma das características do jornalismo atual é a pouca disponibilidade de tempo. Como dizem por aí, a famosa deadline não perdoa! Se o tempo é tão escasso, como observar de maneira eficaz o que acontece na nossa volta?


Para finalizar, eu gostaria de dizer que doces são as tardes de um flâneur. Alguns chamam estes intrépidos varões de vagabundos, mas na verdade são esses passeios ociosos e discussões despreocupadas que permitem aos indivíduos assimilar conceitos adquiridos nos mais variados ambientes. Até os gregos sabiam que para o exercício intelectual é necessário tempo, isso há mais de dois mil anos.


E então, acompanham-me a um bar para jogar conversa fora?




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*Passear ociosamente; vadiar.

Sobre João do Rio: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_do_Rio

domingo, 9 de dezembro de 2007

30 Anos sem Clarice

Nesta semana a grande escritora Clarice Lispector nascida na Tchecoslováquia e naturalizada brasileira comemoraria 87 anos. Clarice chega ao Brasil com apenas 2 anos, aos 5 sua mãe ficou paralítica devido a uma doença e então passou a ser cuidada pela irmã mais velha Elisa e aos oito anos aprendeu a ler.

Um ano depois sua mãe morre, Clarice começa a estudar piano e hebraico e já escreve uma peça de teatro. A autora manda seus textos para o Diário de Pernambuco que os recusa. Em 1932 ingressa no Ginásio Pernambucano e em 1935 muda-se para o Rio de Janeiro. Aos 17 anos faz o curso complementar com o objetivo de mais tarde cursar direito na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil.

Passando por mais uma crise financeira Clarice leciona português e matemática alem de aprender datilografia e inglês. Começa a cursar direito e a trabalhar secretaria de um escritório de Advocacia em 1939. No ano seguinte tem alguns de seus contos publicados e inicia sua carreira de jornalista na Agencia Nacional.

Escreve seu primeiro romance “Perto do Coração Selvagem” que é bem recebido pela critica, casa-se com Maury Gurgel Valente, seu colega de faculdade, e muda-se para Nápoles com ele. Na Itália lança seu segundo romance “O Lustre” em 1944 e ganha o premio Graça Aranha.

Em 1948 Clarice tem seu primeiro filho Pedro, publica seu terceiro romance “A Cidade Sitiada” e então volta ao Brasil. Dois anos depois sofre um aborto espontâneo e após mais dois anos se forma em direito e vai morar nos EUA onde tem seu segundo filho Paulo.
Aos 39 anos se divorcia e volta para o Brasil com os filhos, aos 40 publica o livro de contos “Laços de Família”, que recebe o Prêmio Jabuti, aos 41 finalmente consegue publicar seu quarto romance “A Maçã no Escuro”, que começara a escrever 9 ano antes, e aos 44 publica outro livro de contos “A Legião”.

Em 1966, enfrentado mais uma crise financeira, tendo de cuidar da saúde e educação de seus filhos Clarice adormece com um cigarro aceso que acaba por incendiar seu quarto e a deixando por dois meses internada num hospital com queimaduras por todo o corpo.

Publica então dois livros infantis “O Mistério do Coelho Pensante” em 1967 e “A Mulher que Matou os Peixes” em 1968 e então os romances “Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres” em 1969 e “Objeto Gritante” em 1970.

Clarice não para de publicar livros até sua morte em 1977, sua obra é reconhecida principalmente depois de seu falecimento. Analisemos então o conto Laços de Família do livro de mesmo nome.

Laços de Família trata dos sentimentos que existem dentro da família mesmo sem que esses sejam expressos. Do amor que existe independentemente de declarações, do ciúme que esse pode causar e também fala do peso do silêncio na relação da personagem Severina e seu genro que apesar de não se gostarem muito manterem uma relação perfeitamente cordial.

Confira uma entrevista com a autora no link: http://www.youtube.com/watch?v=1aF7QwPGS1Y .