sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Viagem às selvas tropicais

O escritor e poeta colombiano Alvaro Mutis é muito prestigiado na literatura de língua espanhola, apesar de não ser muito conhecido no Brasil – para variar, eu não sei quando os brasileiros perderão essa resistência à belíssima literatura latino-americana e conhecerão as maravilhas que foram escritas na língua de Cervantes. Enfim, Mutis já recebeu vários prêmios e sua personagem mais conhecida é Maqroll o gaveiro, um marinheiro que se envolve em muitas aventuras. Na década de 90, foram publicadas as sete novelas que compõem a narrativa do aventureiro misterioso, algumas delas já editadas em português.

O livro comentado neste post é “A neve do Almirante”, que narra a aventura de Maqroll subindo o rio Xurandó para negociar madeira. Mais importante do que o resultado final é a viagem em si, narrada em diário pelo marinheiro. As personagens encontradas no caminho beiram muitas vezes o grotesco e mostram a vida que passa mansa e sem esperança nas selvas tropicais. A floresta, aliás, é muito importante na narrativa. Assustadora, grandiosa e sufocante, a mata age diretamente nas personagens. O livro mostra a realidade de abandono e a forma como os interesses de poderosos – os mais espertos - interferem na vida da região. O livro, porém, está longe de ser um manifesto sobre os problemas desta parte do mundo. É, antes de tudo, uma viagem filosófica onde o protagonista reflete sobre a vida e a morte.

No final do livro, há outros textos sobre a mesma personagem, vivendo outras histórias. Isso dá vontade de conhecer mais sobre a vida de Maqroll, ler as outras novelas sobre ele. Não sei se todas estão disponíveis em português, provavelmente não (não achei referências à coletânea em português na Internet). Para quem lê em espanhol ou em inglês, fica a dica das sete novelas. Para quem só lê em português, o jeito é conhecer o que já foi publicado por aqui e rezar para que os outros livros sejam traduzidos.

Para ler uma entrevista que Mutis concedeu ao jornal Estado de São Paulo, clique em http://www.estado.com.br/editorias/2006/01/29/cad28218.xml

No blog de Adelto Gonçalves – especialista em Literatura Espanhola, Literatura Hispano-Americana e Literatura Portuguesa – é possível saber um pouco mais sobre outro livro que narra as aventuras de Maqroll, “A última escala do velho cargueiro”.É só clicar em
http://blog.comunidades.net/adelto/index.php?op=arquivo&pagina=34&mmes=07&anon=2005

É possível saber um pouco mais sobre Mutis e sua poesia em
http://www.revista.agulha.nom.br/bh5mutis2.htm

E para ler um trecho do livro "A neve do Almirante ", vá até
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u58176.shtml

A Última Crônica

Fernando Tavares Sabino, mineiro de Belo Horizonte nasceu em 12 de outubro de 1923. Desde criança gosta de música e de ler, teve sua primeira obra publicada “Agus”, um romance policial, pela iniciativa de seu irmão Gerson pouco tempo depois contribui para a formação do jornal “A Inúbia”.


Ao final do curso no Ginásio Mineiro Fernando ganha a medalha de ouro de melhor aluno da classe, e a partir daí tem seus textos publicados regularmente pelas revistas: “Belo Horizonte” e “Alterosas”, e vence também vario concursos de crônicas e contos sobre rádio.


Disputou também vários campeonatos de natação e em muitos deles foi o vencedor. Ficou em segundo lugar na Maratona Nacional de Português e Gramática Histórica, perdendo apenas para Hélio Pellegrino, seu ex-colega de ginásio. Em resumo, sempre foi um aluno Brilhante.


Dos 18 aos 21 anos presta serviço militar a Arma de Cavalaria do CPOR. Então inicia o a faculdade de direito e ingressa no jornalismo como editor da “Folha de Minas” e tem seu primeiro livro lançado “Os Grilos não Cantam Mais”, que é muito bem recebido pela crítica.


Em 1942 foi funcionário da secretaria de finanças de Minas Gerais e leciona Português no Instituto Padre Machado. Em 1943 é nomeado oficial do gabinete do secretário da agricultura e faz um estágio no Quartel de Cavalaria de Juiz de fora.


Quatro anos depois se forma em Direito e se muda para o Estados Unidos onde trabalha no Escritório Comercial do Brasil e depois no Consulado Brasileiro e mais quatro anos depois, já de volta ao Brasil, reúne vários de seus textos escritos nos Estados Unidos e publica no livro “A Cidade Vazia”


Em 1956 publica o romance “O encontro Marcado”, que foi um grande sucesso e parte a viver apenas de suas criações literárias. Também cria roteiros e textos documentários para varias empresas brasileiras.


Ganha o prêmio Cinaglia do Pen Club pelo livro “A Mulher do Vizinho” Em 1966 cobre a Copa do Mundo de futebol para o “Jornal do Brasil” e daí em diante não para mais de viajar e publicar contos, crônicas e livros pelo mundo inteiro.


Bom, vamos então ao que mais nos interessa “A Última crônica”. Basicamente esta crônica nos mostra que para sermos felizes devemos perceber cada pequeno detalhe do que acontece ao nosso redor e valorizar cada momento de alegria que temos. Para vivenciar mais um desses momentos acesse http://www.releituras.com/i_samuel_fsabino.asp .

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Cabeça de Bagre Histórias do futebol

Ciro Knackfuss, nascido em Santa Maria da Boca do Monte em 15 de Abril de 1952, é doutor em Educação Física e professor titular do Centro de Educação Física e Desportos da UFSM. Segundo ele mesmo, um "Cabeça-de-Bagre" (jogador de futebol com habilidades não acima da média) apaixonado por futebol que "até hoje, faça chuva ou faça sol, corre atrás da bola nos campeonatos de veteranos da cidade universitária".
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Na noite de ontem, quarta-feira, lançou o livro "Cabeça-de-Bagre histórias do futebol". As 23 crônicas da obra, com um toque de humor-pitoresco, trazem um pouco da história do futebol de Santa Maria. Algumas delas foram inclusive publicadas na revista "Garganta do Diabo", da década de 90.
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O livro apresenta histórias presenciadas pelo próprio autor, assim como narrativas curiosas sobre futebol que Ciro ouviu dos amigos. Algumas das suas experiências inusitadas no futebol amador e profissional estão presentes na obra.
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Quando jogava no poderoso "Mustangue do Marqueto", "campeoníssima agremiação de veteranos fundada em 1986", Ciro foi o protagonista de uma das mais divertidas crônicas do "Cabeça-de-Bagre". O time chegara a mais uma decisão, dessa vez contra o "Grêmio Atlético Imembuí".
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Antes de a bola rolar, Ciro aproximou-se do árbitro Carlos Gilberto Bertagnolli, o "Polenta", e sussurrou-lhe a seguinte frase: "Polenta, vou cair na área." O árbitro, então, olhou imediatamente para ele e disparou: "Azar é teu, vai te sujar todo."
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"Polenta" e as demais crônicas formam um conjunto de histórias divertidas, críticas e irresistíveis; mesmo para aqueles que não viveram aquele que é tido como o mais belo período do futebol brasileiro. Entre a primeira e a última crônica são muitas risadas e um único espaço de tempo.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Sargento Garcia




O conto “Sargento Garcia”, entra como ingrediente de hoje, escrito por Caio Fernando Abreu, faz parte do livro “Morangos Mofados”. Caio é um escritor gaúcho natural da cidade de Santiago na fronteira oeste (meu conterrâneo). O escritor falecido em 25 de fevereiro de 1996, nos deixou uma ampla bibliografia com historias que contam exploram diversos conflitos, sociais e pessoais da classe media, nesse conto temos uma boa noção do estilo de como Caio trabalha os temas de sua obra.

A história é a seguinte, na década de 70 durante a ditadura militar, o jovem Hermes está na sala de recrutamento, quando o sargento chama seu nome caminha até o meio da sala para ser inspecionado, garoto tímido, com os pés chatos, taquicardia e pressão baixa, é entrevistado pelo recrutador Sargento Garcia.

Diante dos insultos do sargento e das risadinhas dos soldados, se sente mais nu do que todos naquela sala, “nenhum amigo, só esta tontura seca de estar começando a viver, um monte de coisas que eu não entendo, todas as manhãs, meu sargento, para todo o sempre, amém.”, nesse trecho temos uma idéia do rapaz que não queria servir a pátria, trabalhava em um escritório e fazia pré-vestibular para filosofia.

Ao saber disso o “inquisidor” alivia o rapaz com a noticia de que ele estava dispensado do serviço, depois de ter posto a roupa desce em direção a Azenha, para pegar o bonde, no caminho é interceptado pelo sargento Garcia, que lhe oferece carona, no começo do percurso Hermes reflete e se espanta, o homem não parecia mais um leão ou um general e sim alguém normal dirigindo o carro, a atitude do sargento muda, apesar de continuar com alguns comentários truculentos, a conversa permanecia amena.

Quando param no ponto do bonde, Garcia faz um convite, já com a mão em cima do garoto, para irem a um lugar, nessa virada, temos um estranhamento quando um sargento das forças armadas que convivia com “aquela bagualada mais grossa do que dedo destroncado”, e tinha como filosofia de vida, pisar nos outros antes que os outros te pisem.

Desse momento em diante, é praticamente obvio o desfecho da historia, a chegada até a casa de Isadora, Valdemir na verdade, a entrada no quarto 7. A historia não se restringe a relação homossexual entre um jovem de 17 anos e um sargento de 33, mostra também a enorme dificuldade que nossa sociedade tem de tratar pessoas que “optam por viver de uma forma não ortodoxa”, os conflitos pessoais, a busca por identidade, o medo do preconceito, e a hipocrisia dos donos da verdade.
blog com varias obras de Caio F abreu
Curta Metragem "Sargento Garcia" na integra...

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A Los Héroes Sin Nombre

Llanto por los muertos - Aguillera


O título é daqueles que causam calafrios só de ler. Aos Heróis sem Nome (tradução livre) fala das pessoas que nascem sem muitas glórias, que dão seu sangue no dia-a-dia e às vezes morrem no esquecimento. Trata daqueles que durante suas vidas batalham ferozmente por um futuro melhor - tanto individualmente quanto coletivamente - e não têm seus nomes estampados em livros de história, apesar de contribuírem para tantos feitos... Pois bem, caro leitor, é sobre os humildes que trata este poema do dominicano Frederico Bermúdez y Ortega.

O poeta dominicano não parece ser muito conhecido, tanto que nem no Wikipédia encontrei dados a seu respeito. De acordo com o site PoesiaLatinoamericana
[1], Frederico Bermúdez y Ortega nasceu no ano de 1884 em San Pedro de Macorís, República Dominicana, e faleceu em 1921 na mesma cidade. O escritor colaborou com as revistas mais importantes do seu tempo, como “La Cuna de América”, “Renacimiento” e “Letras”. Chegou ainda a dirigir na sua cidade natal a revista “Mireya”. Até hoje é considerado um dos principais autores da literatura dominicana.




A Los Héroes sin Nombre

Vosotros, los humildes, los del montón salidos,
heroicos defensores de nuestra libertad,
que en el desfiladero o en la llanura agreste
cumplisteis la orden brava de vuestro Capitán;

Vosotros, que con sangre de vuestras propias venas,
por defender la patria manchasteis la heredad,
hallasteis en la lucha la muerte y el olvido:
la gloria fue, absoluta, de vuestro Capitán.

Cuando el cortante acero del enemigo bando
cebó su torpe furia en vuestra humanidad,
y fuisteis el propicio legado de la tumba,
sin una cruz piadosa ni un ramo funeral,
también a vuestros nombres cubrió el eterno olvido:
¡tan sólo se oyó el nombre de vuestro Capitán!...

Y ya cuando a la cumbre de la soñada gloria
subió la patria ilustre que fue vuestro ideal,
en áureos caracteres la historia un homenaje
rindió a la espada heroica de vuestro Capitán.

Dormidos a la sombra del árbol del olvido,
quién sabe en dónde el resto de vuestro ser está!
Nosotros, los humildes, los del montón salidos,
sois parias; en la liza, con sangre fecundáis
el árbol de la fama que da las verdes hojas
para adornar la frente de vuestro capitán!...



O poema refere-se a quais humildes? Camponeses dominicanos da época de Bermúdez e Ortega? Trabalhadores do nosso século? Um professor me disse certa vez que um poema torna-se universal porque, como sugere Umberto Eco em sua “Obra Aberta”, dá ao leitor a possibilidade de expandir sua interpretação. Analisando, percebe-se que los humildes podem ser quaisquer pessoas que se enquadrem nos versos do poema, independente de época e lugar.

Em Santa Maria, é só andarmos no calçadão e reparar na feição de muitos cidadãos batalhadores, com semblante firme e postura perseverante, lidando diariamente com seus afazeres, para compreender que muitos desses humildes, no fundo, são gigantes que fazem da vida um verdadeiro milagre... São pessoas com histórias às vezes incríveis, que contribuem para a sociedade de uma ou outra forma, mas não são lembradas pela coletividade da qual fazem parte, servindo simplesmente para adornar la frente de vuestro capitán!...

Através da mídia percebemos o quanto a sociedade - não só brasileira, mas latino-americana - é diversificada. Frederico Bermúdez y Ortega mostra-nos que, desde a sua época, dentro dessa diversidade existem elementos comuns entre os latino-americanos, independente de serem da República Dominicana ou aqui do Brasil. O que corrobora, de certa forma, a história que nos foi ensinada na escola, sobre a exploração da nossa terra e da nossa gente.

Para finalizar, quando flanarmos por aí, é bom estarmos atentos aos rumores e pessoas que estiverem ao nosso redor. No meio de tanta estupidez e coisas que não fazem sentido, nossa vida ganha significado ao percebermos que na nossa volta existem Héroes sin Nombre.


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[1] http://www.cubaeuropa.com/cubarte/poesia/PoesiaLatinoamericana.htm Acessado em 26/11/2007.