quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Sargento Garcia




O conto “Sargento Garcia”, entra como ingrediente de hoje, escrito por Caio Fernando Abreu, faz parte do livro “Morangos Mofados”. Caio é um escritor gaúcho natural da cidade de Santiago na fronteira oeste (meu conterrâneo). O escritor falecido em 25 de fevereiro de 1996, nos deixou uma ampla bibliografia com historias que contam exploram diversos conflitos, sociais e pessoais da classe media, nesse conto temos uma boa noção do estilo de como Caio trabalha os temas de sua obra.

A história é a seguinte, na década de 70 durante a ditadura militar, o jovem Hermes está na sala de recrutamento, quando o sargento chama seu nome caminha até o meio da sala para ser inspecionado, garoto tímido, com os pés chatos, taquicardia e pressão baixa, é entrevistado pelo recrutador Sargento Garcia.

Diante dos insultos do sargento e das risadinhas dos soldados, se sente mais nu do que todos naquela sala, “nenhum amigo, só esta tontura seca de estar começando a viver, um monte de coisas que eu não entendo, todas as manhãs, meu sargento, para todo o sempre, amém.”, nesse trecho temos uma idéia do rapaz que não queria servir a pátria, trabalhava em um escritório e fazia pré-vestibular para filosofia.

Ao saber disso o “inquisidor” alivia o rapaz com a noticia de que ele estava dispensado do serviço, depois de ter posto a roupa desce em direção a Azenha, para pegar o bonde, no caminho é interceptado pelo sargento Garcia, que lhe oferece carona, no começo do percurso Hermes reflete e se espanta, o homem não parecia mais um leão ou um general e sim alguém normal dirigindo o carro, a atitude do sargento muda, apesar de continuar com alguns comentários truculentos, a conversa permanecia amena.

Quando param no ponto do bonde, Garcia faz um convite, já com a mão em cima do garoto, para irem a um lugar, nessa virada, temos um estranhamento quando um sargento das forças armadas que convivia com “aquela bagualada mais grossa do que dedo destroncado”, e tinha como filosofia de vida, pisar nos outros antes que os outros te pisem.

Desse momento em diante, é praticamente obvio o desfecho da historia, a chegada até a casa de Isadora, Valdemir na verdade, a entrada no quarto 7. A historia não se restringe a relação homossexual entre um jovem de 17 anos e um sargento de 33, mostra também a enorme dificuldade que nossa sociedade tem de tratar pessoas que “optam por viver de uma forma não ortodoxa”, os conflitos pessoais, a busca por identidade, o medo do preconceito, e a hipocrisia dos donos da verdade.
blog com varias obras de Caio F abreu
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